Mais uma visita a Ilha Diana .


Azul marinho: o sabor e a história da Ilha Diana

Fonte: A Tribuna Digital, Mai/2010 (www.atribuna.com.br)
A TRIBUNA Segunda-feira 3 de maio de 2010
Baixada Santista

Tipicamente caiçara, prato tem como base o peixe e a banana

Terezinha Lima garante: "Faço no olho". A turma de Gastronomia da Unimonte aprovou

Ronaldo Abreu Vaio
da Redação

Juntou a fome com a vonta- de de saber. Cerca de 20 alunos do curso de Gastronomia do Centro Universitário Monte Serrat (Unimonte) foram à Ilha Diana. O objetivo? Degustar um dos pratos mais tradicionais da culinária caiçara: o azul marinho.

"É um prato originário de Ubatuba, que se difundiu pelo Litoral",conta Luciana Marchetti da Silva, professora do curso. Não se sabe exatamente quando essa difusão aconteceu. Mas fato é que o prato concentra dois elementos poderosos da cultura caiçara: o peixe e a banana. "Pode ser qualquer peixe. A banana, a nanica ou a da terra, com casca, desde que verdolenga. Tem que ser preparado em panela de ferro, pois o tanino liberado da casca da banana, em reação com o ferro da panela, cria a coloração azulada, que dá nomeaoprato", explica Luciana.

Na Ilha Diana moram cerca de 250 pessoas, divididas em 40 famílias. Localizada após o Canal do Estuário, fica a apenas alguns minutos de barco do Centro de Santos. Mesmo assim, o silêncio impressiona. O pipocar intermitente dos motores das catraias, os poucos latidos dos cães e uma voz de barítono, em um rádio longínquo só vêm acentuar ainda mais esse silêncio impregnando o ar.

A degustação aconteceu no Bar e Restaurante da Ilha, um lugar simples e acolhedor, improvisado na frente da casa de Hélio de Oliveira França, de 69 anos, e de Terezinha Lima, de 64, que estava apurada na cozinha, preparando a iguaria.

"Faço com tainha ou parati. Coloco cebola, louro, tomate, pimenta do reino", Terezinha enumera. Mas não tem uma receita formal? "Não. Faço no olho. Aprendi com meu marido", e aponta seu Hélio, do outro lado, amassando um limão para uma caipirinha.

"Aprendi o azul marinho com minha tia, com meu padrinho, com quem fui criado", seu Hélio diz, passando a bola para um tempo ainda mais longínquo. Um tempo em que a pesca ainda era a maior, se não a única, fonte de renda dos moradores.

"Até os 16 anos, pescava aqui em Bertioga. Tainha, robalo, camarão. Era de dia e de noite", recorda-se seu Hélio. Depois, mudou-se para Santos ¬ à Ilha de São Vicente, bem entendido; pois, embora não pareça, a Ilha Diana é também um bairro do Município de Santos.

Hélio trabalhou na estiva, conheceu na praia a paranaense Terezinha, e quando se aposentou, resolveu voltar à Ilha Diana. Mas algo da sua Ilha Diana, de onde saíra adolescente, não existemais. "A pesca está escassa. Ainda tem um pouco (de gente) que vive da pesca. Mas outro pouco, já trabalha fora".

O que não muda é o olhar, o espírito caiçara. E por um motivo muito simples: "Caiçara é quem nasce na beira do mar", define. E assim será. Sempre.

É quando surge da cozinha dona Terezinha, com uma generosa travessa de azul Marinho. O aroma é apetitoso. E a julgar pelo comentário da aluna Yohanna Cristina Zutin, o gosto, também."Comi muito. Até demais".

Diariamente, há catraias para a Ilha Diana partindo do Terminal República, ao lado das barcas que ligam Santos a Vicente de Carvalho.


Receita

1 kg de peixe firme (robalo, garoupa), cortado em postas de 3 cm Sal a gosto 5 bananas nanicas bem verdes 2 colheres de sopa de azeite ½ xícara de chá de cebola picada 3 dentes de alho picados 1 xícara de chá de tomate cereja sem pele ou semente, cortados grosseiramente 2 colheres de sopa de coentro picado 1/2 xícara de chá de farinha de mandioca 2 colheres de sopa de salsa picada pimenta malagueta A receita foi extraída do livro Cozinha Regional Brasileira ¬ São Paulo, da Editora Abril.

A professora do curso de Gastronomia da Unimonte, Luciana Marchetti da Silva aprova a receita, mas faz dois adendos. "A banana também pode ser da terra e o prato tem que ser preparado em panela de ferro"

Importância

A degustação acontece a cada semestre do curso. A intermediação é feita pela Secretaria de Turismo de Santos (Setur). Marco Antônio Francisco, chefe do Departamento de Políticas e Produtos de Turismo, explica a diferença do azul marinho, em relação, por exemplo, à já tradicional Meca Santista ¬ e sua consequente importância. "A Meca é um prato turístico. O azul marinho é um prato típico".

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